Povos e comunidades tradicionais reunidos na Semana da Sociobiodiversidade, em Brasília, lotaram o plenário da Câmara dos Deputados nesta quinta-feira, dia 4 de setembro, em Sessão Solene pelo Dia Internacional da Amazônia e, em seguida, seguiram na marcha “A resposta somos nós”, na Esplanada dos Ministérios.
“Essa população que está aqui na nossa frente mostra, de fato, como a Amazônia deve ser valorizada, com a nossa biodiversidade garantida e com a proteção da floresta e do nosso povo”, disse Júlio Barbosa, presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).
A mobilização fez parte da programação da segunda edição da Semana da Sociobiodiversidade, que aconteceu em Brasília entre 1º e 5 de setembro, e levou para o centro da política nacional as demandas de povos e comunidades tradicionais.
Com mais de 450 participantes, o encontro reúne organizações extrativistas de diferentes regiões do país que atuam nos segmentos socioprodutivos da borracha, pirarucu, castanha-da-Amazônia e pesca artesanal em Reservas Extrativistas Marinhas e Costeiras, entre outros.
Júlio Barbosa, do CNS, compôs a mesa da Sessão da Solene ao lado de lideranças como a ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara; de Alana Manchieri, Assessora Internacional, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB); e Ângela Mendes, presidente do Comitê Chico Mendes e filha de Chico Mendes, símbolo da luta pela Amazônia.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, falou da importância dos povos e comunidades tradicionais na preservação da floresta. “A Amazônia é mais que o bioma floresta, é um sistema vivo que regula o clima e guarda a maior biodiversidade do planeta e é sustentada pelos modos de vida ancestrais e fruto do manejo, do cuidado e convivência harmoniosa dos povos indígenas, quilombolas, extrativistas ao longo dos séculos”, disse
Ela trouxe ainda os retrocessos do Congresso Nacional em relação à legislação ambiental. Um dos exemplos é o PL da Devastação, aprovado em maio pelo Congresso, mas que teve vetos do presidente Lula.
A presidente executiva do Instituto Chico Mendes, Ângela Mendes, filha do líder Chico Mendes, também destacou que os povos da Amazônia são seu maior patrimônio. “Não podemos deixar de homenagear a Amazônia e reconhecê-la como um bioma vivo, como a maior floresta tropical do mundo, a maior biodiversidade do mundo. Reconhecer sua resiliência. Mas seu maior patrimônio são seus povos e populações que prestam o serviço de guardar esse lugar. Como ser vivo, a Amazônia precisa de cuidado e quem cuida é quem está na floresta”, disse.
Secretária Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais, Rita Mesquita participou da sessão e falou da importância de políticas públicas adequadas aos territórios para o desenvolvimento das economias da sociobiodiversidade. “A sociobioeconomia é uma economia diferente, da floresta e para a floresta, pautada por outros limites e outros modos de fazer. E quem detém os modos de fazer são vocês, que estão trazendo diversidade a esse plenário na sessão pelo Dia da Amazônia”, disse.
Logo após a sessão solene, foi realizado o ato que reforçou a “Declaração do Mutirão dos Povos da Amazônia para COP 30: A resposta somos nós”, construída coletivamente pelos movimentos durante o Mutirão dos Povos, realizado em Belém em julho. Com mensagens como “Território protegido, Brasil soberano” e “Amazônia livre de petróleo e gás”, representantes dos povos realizaram uma marcha na Esplanada dos Ministérios. A sessão solene e o ato anteciparam a mobilização pelo Dia Internacional da Amazônia, que é comemorado em 5 de setembro.
“A mobilização nacional reforça que povos extrativistas, indígenas, quilombolas e ribeirinhos não são apenas guardiões da floresta, do mar e dos territórios, mas também protagonistas de soluções concretas para a crise climática e para um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável”, destaca a secretária-executiva do Observatório das Economias da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio), Laura Souza.
Organizada pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e pela Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (CONFREM), em parceria com o Observatório das Economias da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio), a semana teve o apoio de diversas instituições, entre elas o Instituto Socioambiental – ISA.
Carta da Sociobiodiversidade
Durante a solenidade foi entregue aos deputados a Carta da Sociobiodiversidade. Na sexta-feira (5), o documento foi entregue a representantes do Governo Federal, entre eles a Secretária Nacional de Bioeconomia, Carina Pimenta.
No documento, construído coletivamente, os povos reforçaram o seu protagonismo no enfrentamento à crise climática e também para a economia do país e cobraram políticas públicas adequadas às realidades dos territórios. E deixaram claro que querem espaço e voz na COP30 para terem reconhecimento efetivo de seus modos de vida e produção como promotores da regulação climática.
Foto: Divulgação da Semana da Sociobiodiversidade 2025



